Imagine, estimado leitor, é sábado e você, munido de uma cesta, acompanhado de seus filhos, pega o carro, sai a passear pelo interior colonial. Quem sabe pela Rota Germânica ou pelos Caminhos de Boa Vista (roteiros turísticos de Santa Cruz do Sul) ou … . Ao longo do caminho conta para seus filhos um pouco da história do lugar, de que ali as pessoas falam uma segunda língua, mostra-lhes casas antigas. De repente, avistam um enorme canteiro carregado de suculentos morangos com uma placa “para colher e levar”. Não há ninguém na lavoura. Você para o carro, pega a cesta e, junto com seus filhos, sem pisotear os canteiros, colhe morangos maduros. Enquanto isso, explica aos filhos as propriedades nutritivas da fruta, como se cultiva, e juntos pensam nas delícias que farão com ela em casa. Quando termina a colheita, você coloca os morangos numa balança, junto a uma caixinha, e deposita no recipiente o dinheiro correspondente.
Mais adiante você encontra, à beira da estrada, uma enorme carroça cheia de legumes. Ninguém por perto para vendê-los. Você desce do carro e junto com os filhos escolhe alguns. Na carroça há uma uma lista com preço, ao lado dela há uma caixinha, nela você deposita o dinheiro para pagar os legumes escolhidos.
Felizes, vocês continuam o passeio. Em dado momento, param o carro e decidem adentrar por uma trilha que leva a uma floresta. À medida que penetram na mata, você conversa com seus filhos sobre os animais que ali têm sua morada, como vivem, do que se alimentam. Juntos param diversas vezes para observar árvores, suas folhas, suas flores, seus frutos, suas sementes. Você conversa com seus filhos sobre a importância das florestas para o equilíbrio ecológico. Em nenhum momento vocês saem da trilha para não maltratar as plantas ou incomodar os bichinhos. Quando cansam, sentam num banco em meio ao bosque para restaurarem as forças, para se deixarem envolver pela magia do lugar, aspirar o ar que recende a terra úmida e a plantas silvestres.
Depois de tantas vivências maravilhosas em contato com a vida fora da cidade, vocês retornam felizes para casa, enquanto cantam belas canções antigas que vêm de longe, de outras vidas. Já perto da cidade, vocês param mais uma vez, agora diante de imensos canteiros de flores. Já haviam alimentado a alma com a caminhada em meio à natureza, já escolheram legumes e colheram frutas. Agora param o carro uma última vez. Para completar, uma linda mesa com as delícias colhidas, somente faltam flores. Juntos escolhem flores para compor um lindo buquê. Assim como já feito anteriormente, deixam o dinheiro numa caixinha presa a um poste junto aos canteiros.
Imaginou, meu caro leitor? Maravilhoso, não é mesmo? O quê? Impossível? Utópico? Eu lhe digo que é possível. O que lhe descrevi eu já vivenciei em outros lugares por onde andei, em diferentes lugares na Alemanha. Principalmente canteiros de flores vi muitos no sul da Alemanha. Nos arredores de Tübingen eu mesma já colhi moranguinhos e flores. Abóboras em carroças com toldos eu testemunhei na região central da Alemanha.
Para ser possível entre nós, precisamos valorizar mais a vida, vida em toda sua diversidade, semear o valor da vida no coração de nossos filhos, estimular e desenvolver neles consciência cidadã. Condição sine qua non para a vida prosperar com qualidade em meio social.
*Lissi Bender é doutoranda da Universidade de Tübingen, Alemanha, docente da Unisc – Universidade de Santa Cruz do Sul, RS, comentarista do programa radiofônico AHAI e colaboradora/colunista do portal www.brasilalemanha.com.br .
Contato: lissi@unisc.br