Lissi Bender
Vista de longe, Santa Cruz é global, igual a tantas outras. No entanto, quando você penetra em suas entranhas e contempla atentamente nosso lugar de viver, você verá que ele oferece diferentes aspectos que o tornam inconfundível. Marcas históricas de fé particularizam nossa aldeia: a Igreja Evangélica de Rio Pardinho, inaugurada em 1864; a centenária igrejinha do Geiselberg em Alto Linha Santa Cruz; a Igreja Evangélica do centro, preciosidade em estilo neorromânico, inaugurada em 1924. Todas elas representam a espiritualidade cristã de Martin Luther, vinda junto com os imigrantes alemães.
Majestoso monumento, em estilo neogótico tardio, é a nossa catedral, fruto de fé, trabalho e dedicação de muitas vidas. A missa inaugural na véspera do Natal de 1939 aconteceu em meio à imposição de silenciar a língua local. Essa fé também está entronizada na cruz de 20 metros de altura, erguida em 1996 no Monte Verde, visível de longe quando iluminada durante a noite. Há cerca de 20 anos a religiosidade também recebeu o reforço de um Mosteiro Beneditino, o da Santíssima Trindade, erguido na Querpikade, onde monjas celebram a fé e o trabalho – ora et labora.
Além da fé, outros bens materiais e imateriais particularizam Santa Cruz. Entre eles, a perene prerrogativa histórica de ter inaugurado a segunda fase de imigração alemã no Estado. A Lei Provincial de 6 de dezembro de 1847 fundou a Colônia Santa Cruz para que nela famílias alemãs frutificassem a terra. Seu legado confere distinção à região. A toponímia original continua viva e aqui mereceu legislação do poder público municipal para sua permanência e visibilidade. A Rota Germânica corporifica a presença alemã em suas diferentes dimensões e a Oktoberfest canta e encanta o mundo celebrando a construção de Santa Cruz com a participação alemã.
Assim como a Oktoberfest, nosso Kuchen faz Santa Cruz ser conhecida para muito além de suas fronteiras. Para celebrá-la, organiza-se anualmente uma festa, e até mesmo no jornal “O Estado de São Paulo” nossa cuca – inigualável – já mereceu caderno especial.
Também a língua alemã é um dos patrimônios que identifica de forma inequívoca o município. Depois de longo tempo interditada e, na sequência, inviabilizada, foi recolocada em seu espaço primordial, no educacional. E por falar em educação, já nos aproximamos de outro elemento identificador, a UNISC. Uma universidade comunitária, sem fins lucrativos, em que a união de esforços pelo desenvolvimento humano e regional está em sintonia com valores comunitários presentes aqui desde os primórdios da colonização.
Igualmente o verde exuberante e as flores fazem parte da identidade de Santa Cruz. Sem suas árvores, sem o túnel de Tipuanas, o Parque da Gruta e o Cinturão Verde, Santa Cruz perderia sua identidade de comunhão com e preservadora da natureza. Ou, como diria a Monja Roberta Peluso: “Tirar o Cinturão Verde de nosso povo seria como tirar o mar de quem mora no Litoral”.
Tudo isso contribui para singularizar nosso espaço de viver. Cantemos, pois, nossa aldeia, para que continue especial e única. Encantemos o mundo com tudo quanto faz nossa Heimat um lugar unverwechselbar – inconfundível!
*Lissi Bender é professora de Leitura e Produção de Textos, Língua, Literatura e Cultura Alemã, Subchefe do Dep. de Letras da UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul, RS, doutoranda na Universidade de Tübingen, Alemanha, comentaista do programa radiofônico AHAI – A Hora Alemã Intercomunitária/Die Deutsche Stunde der Gemeinden e colunista de www.brasilalemanha.com.br.
E-mail: lissi@unisc.br