Diferentes manifestações culturais do Brasil são fruto legado e cultivado por diferentes etnias que compõem o povo brasileiro. É no conjunto dessa diversidade que reside a riqueza cultural brasileira. Se volvermos nosso olhar para o mês de dezembro, constataremos que estamos vivenciando um tempo dos mais ricos em manifestações e cultivo de tradições.
As diferentes influências e confluências culturais se expressam por excelência nos preparativos e nos modos de vivenciar o advento e celebrar o Natal. Até mesmo a mesa natalina muda, dependendo da origem étnica dos brasileiros. Há quem celebre com bacalhau e rabanada, hábitos vindos de Portugal; há quem costume celebrar com cordeiro e panettone, tradição vinda com os italianos. O peru, no entanto, se instalou entre nós pela influência americana sobre nós, com reforço da indústria alimentícia e da mídia. Tanto a rabanada quanto o bacalhau faziam parte da dieta portuguesa em tempo de carestia. Ambos passaram a fazer parte da religiosidade e cultura do povo português durante o tempo de jejum do advento. A influência do jejum e também da parcimônia ainda é perceptível na mesa natalina alemã contemporânea, sobre a qual predomina o Kartoffelsalat mit Würstchen – salada de batata e salsicha. Essa mesa sem pompa fez parte de meus natais na minha infância e ainda atualmente. Ela representa para mim a vida sem ostentação do homenageado – Jesus.
Entretanto, para o Natal não pode faltar a cuca natalina. O doce dos italianos, o panetone, teria sido inventado por um padeiro italiano de nome Tone, em Milão, que, nos idos do ano 900 d.C., teria criado “o pane di Tone”. Entre os descendentes de alemães a cuca natalina é o Christstollen, que vem de uma tradição de mais de 500 anos. Originariamente feito para o tempo de jejum do advento, a cuca incorporou-se às celebrações natalinas, assim como tantos outros símbolos. Entre eles, a coroa de advento com quatro velas. Um hábito trazido a nós pelos pastores que vinham da Alemanha para cuidar das almas, nas comunidades de origem alemã.
Advento é sempre um tempo especial. Nas colônias de origem alemã muitos lares recendem a suaves aromas. É tempo de bolachinhas natalinas. Um hábito que na Alemanha mobiliza toda a família, e a rainha de todas é o Lebkuchen, em diferentes formatos como estrela, coração, lua e pinheirinho. Aqui as bolachinhas também recebem estes mesmos moldes. Ah, e são cobertas com clara de ovo em neve, para lembrar o inverno dos natais além mar. E, claro, é tempo de lindas canções, como Noite Feliz, O Tannenbaum (homenagem ao pinheirinho) e a árvore natalina igualmente costumes vindos da Alemanha.
Advento também é tempo de feiras natalinas e de concertos em praticamente todas as cidades alemãs. Essa tradição, lá existente desde 1434, enseja entre nós concertos natalinos e a Christkind-Fest que, no entanto, inclui também eventos sem cunho cristão, e nisso ela difere da feira alemã. Mas, sem dúvida, este é um tempo riquíssimo em manifestações, em que diferentes etnias celebram de diferentes modos o nascimento de Cristo. Em nosso meio tem um significado a mais: ao mesmo tempo em que celebramos a fraternidade semeada por Jesus, relembramos o inicio de Santa Cruz enquanto Colônia: a partir de 19 de dezembro de 1849 principiou a vinda de alemães, convidados para aqui construírem vida. De lá para cá seu legado, junto com outros, enriquece toda a região.
*Lissi Bender é docente da Unisc – Universidade de Santa Cruz do Sul, RS, comentarista do programa radiofônico AHAI e colunista do portal www.brasilalemanha.com.br