Pequeninos ramos verdes de cipreste envoltos em um lacinho, ou raminho de flor enlaçado em fita de cetim fixados no lado esquerdo do peito fazem parte de uma tradição alemã em festas de família, ainda hoje, na Alemanha. Em nosso meio ficaram mais raros, mas muito estiveram presentes para congraçar em júbilo as pessoas que participavam de um evento como casamento, quermesse, e ficavam para os convidados como lembrança da festa.
Os organizadores da Expoagro AFUBRA em Santa Cruz do Sul, RS, fizeram reviver esta singela tradição, quando receberam os convidados para o lançamento da feira agrícola deste ano que homenageia a presença alemã e centra suas reflexões na permanência do jovem no campo. Entre as diversas falas da noite, chamou-me especial atenção a palestra do Secretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Luiz Fernando Mainardi. Questionava ele formas para manter os jovens no campo, meios para construir mais qualidade de vida, mais renda para quem trabalha no cultivo da terra. Entre outras dimensões, o secretário defende a diversificação de culturas, o cooperativismo e uma escola voltada para a realidade e as necessidades nas quais os jovens estão inseridos. Formas estas que há muito tem merecido o empenho da própria AFUBRA – Associação de Fumicultores do Brasil. Tanto que ela organiza a maior feira voltada para a agricultura familiar no Brasil.
Desde que a escola comunitária alemã foi substituída pela escola pública, a própria escola mudou. Deixou de amparar os jovens na manutenção da língua dos pais, tem colaborado para aliená-los de sua realidade, tanto física quanto cultural. A escola deixou de ser apoio da comunidade interiorana no sentido de inserir os jovens efetivamente no seu meio e passou a oferecer-lhes o mundo urbano como lugar desejável para viverem. A escola passou a “operar dentro de uma lógica urbana”, com professores que, em grande parte, desconheciam e desconhecem as particularidades do mundo colonial no qual vivem os alunos. Com o intuito de “civilizar” o jovem rural, a escola passou a desprezar esta realidade. Passou a desconsiderar o mundo permeado pela cultura dos descendentes de imigrantes, com suas línguas, seu conhecimento diverso, seu modo diferenciado de compreender e valorizar a vida, seu modo familiar de organização do trabalho.
A sociedade atual foi mais longe, proibiu os pais de iniciarem seus filhos na agricultura familiar, um de seus sustentáculos, em que todos se unem pelo bem comum, cada qual dentro de suas possibilidades. Realidade na qual eu fui criada. Sem descuidar da educação formal escolar, do lazer em finais de semana, a família cuidava para desenvolver em seus filhos o sentimento de pertencimento integrando-os ativamente na reprodução da vida. E isto sempre foi o grande fundamento, o esteio para a agricultura familiar. Desde o menor ao mais idoso, cada um participava, dentro de suas possibilidades, para que a vida em família prosperasse. Ninguém era parasita de ninguém.
Iniciação para o trabalho deve continuar sendo prerrogativa da família, principalmente onde prospera o cultivo da terra em família. O amor aos seus, o amor aos seus bens naturais e culturais, o amor pela atividade exercida na terra, o sentimento de pertencimento ao grupo familiar, ao meio social, é semente que precisa ser lançada desde cedo no coração do ser humano. Inclusive como forma de manter o jovem longe das drogas. A escola, inserida no contexto colonial de agricultura familiar precisa conhecer profundamente esta realidade que compõe a vida de seus jovens, para poder apoiar as famílias no cultivo de seu mundo cultural e econômico peculiar. Se isto não acontecer, estar-se-á condenando o mundo colonial ao perecimento.
* Professora de Leitura e Produção de Textos,
Língua, Literatura e Cultura Alemã
Subchefe do Departamento de Letras
da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC
Comentarista do Programa Radiofônico AHAI e colunista de www.brasilalemanha.com.br