Uma das 36 províncias, um espécie de estado, da Antiga Prússia, depois Confederação Germânica e atual Alemanha, a Pomerânia poderia ter virado um país no decorrer da sua conturbada história!
São detalhes históricos que impedem ou fizeram com que lugares virassem grandes nações. No Brasil temos um exemplo, o Quilombo dos Palmares que por pouco não virou uma nação dentro do Brasil. Tinha uma política, economia, uma grande líder, organização bélica própria e diferente do Brasil Escravocrata Colonial. Resumindo: foram necessários três exércitos para derrotar Palmares. Por pouco não seria uma nação ali no nordeste. Ganhou de dois exércitos: de Recife e Salvador e perdeu a última batalha contra São Paulo.
E por dois detalhes fundamentais, a Pomerânia não virou uma grande nação às margens do Mar Báltico, norte da Europa. Esses dois detalhes são: a falta de uma grande liderança e a falta de um grande exército.
A Pomerânia foi o maior Celeiro Agrícola da Europa por um grande período. As batatas inglesas são pomeranas, na verdade a Inglaterra roubou nossas batas e as batizou de “inglesa”. As riquezas minerais do seu subsolo chamavam a atenção das potencias da época. Sua localização marítima com linda e enorme praias e os limites do Ocidente com o Oriente poderiam ser de grande importância estratégica assim como cobiça das grandes nações.
As outras manifestações históricas e culturais o povo pomerano na época já tinha: um território (pequeno como a maioria dos atuais países europeus mas tinham; era 75% do tamanho do Espírito Santo.) Esse território poderia ter sido ampliado com as eventuais lutas e conquistas do exército. E é em cima desse solo que as plantações, as criações, os túmulos, a cultura e outras práticas teriam a sua territorialidade.
Um das manifestações mais importantes é a Língua. E a Pomerânia tinha. A língua pomerana seria fator importante para a eventual nação. Não era, como querem alguns um dialeto do alemão. É uma língua não escrita e pesquisada até a década de 1980. Com as pesquisas do Ismael Tressmann essa língua mostrou a sua força de resistência como seu povo. A língua é o coração da cultura. Ela arrasta consigo a história e todas as outras dezenas de manifestações culturais. A língua explica, detalha, dá sentido, desfia, arrasta consigo, eterniza outros elementos da identidade histórica e cultural do seu povo. Também fortalece a territorialidade, dá sentido ao solo, aos mares, a natureza que aquela nação ocupava e cultivava do seu jeito.
A culinária pomerana tanto na Europa como aqui no Brasil tem caraterísticas alimentares próprias e marcantes. A influência do clima frio europeu é sentida na produção agrícola como faz o clima quente do Brasil. Com essas profundas influencia os pomeranos também readaptaram a sua linda com a terra e na sua produção agrícola. Na Pomerânia tinham a batata inglesa, centeio, beterraba, trigo, aveia, era a base da sua produção agrícola. O brote que na Europa era feito de trigo, centeio e aveia aqui no Brasil passa a ser feito com fubá, inhame, mandioca, batata doce e cará. Em ocasião especiais fazia se o brote com o trigo importado da Região sul do Brasil. O almoço que na Pomerânia tinha como base a batata inglesa, no Brasil é o tradicional almoço e janta com arroz, farinha de mandioca, feijão e carnes de galinha, porco ou gado. No Espírito Santo e Rondônia podemos citar o brote, a linguiça e o almoço típico pomerano, especialmente nos fins de semana: sopa, batata doce, mandioca, carne de galinha e sobremesa de arroz doce ou sopa de pêssegos.
Existe até uma música quem tem um refrão falando do “alemão batata” (RS), “Alemão taioba” (RO) e “alemão broteiro” (ES) que são os principais alimentos pomeranos nesses estados.
A música é outra rica e especial manifestação cultural pomerana. Com destaque para a solitária concertina. O som da concertina com bailes de final de mutirão, casamentos pomeranos e bailes atravessou o século aqui no Brasil.
Recentemente tivemos até uma banda de rock em Laranja da Terra. Atualmente temos cantores na língua pomerana em Santa Maria de Jetibá, Domingos Martins, Vila Pavão e RS. Em Vila Pavão temos a Banda Up Pomerisch. Também temos compositores como Jorge Kuster Jacob(letra) e Nicolas Berger (música) enfocando a história e a identidade cultural atual pomerana. No Rio Grande do Sul temos bandinhas típicas pomeranas.
Outra manifestação típica é a dança. Da Idade Média, os pomeranos devem ter mais de 5 danças típicas e que fazem parte do bailado deste povo la na Europa. Muitos são apresentadas pelos tradicionais grupos de danças no ES, RO, RS, SC, MG e PR. Só no tradicional casamento pomeranos temos além de centenas de músicas só tocadas pela concertina, ainda temos a dança no quebra louca, a dança das noivas, a dança da vassoura, entre outras que animam os três dias de festa.
A vestimenta dos pomeranos no clima tropical brasileiro também nos chama a atenção. Os homens com um lindo chapéu de feltro e uma pena colorida. A roupa leve (tergal) por causa do calor com a calça e camisa passada a ferro de passar e as mulheres com seu vestidos coloridos, floridos. Os tradicionais grupos de danças trazem seus trajes típicos do inverno europeu. Cada detalhe com sua explicação contextualizada. Uma é a vestimenta no rigoroso clima frio europeu, outra é a vestimenta aqui no rigoroso calor brasileiro.
Uma outra manifestação cultural é a arquitetura pomerana. Mesmo aqui no Espirito Santo de clima tropical de longe reconhecemos uma casa típica pomerana. Altas do chão, grandes varandas, com diversas janelas, frestas no assoalho de tábuas, tudo por causa do calor com as cores azul e branca. Diferente de habitações construídas no rigoroso frio europeu e sul do Brasil. Com poucas janelas, paredes grossas, sem varandas e literalmente coladas no chão para combater o frio.
Artesanato, marcenaria e carpintaria são áreas que trabalham com madeira. Entre os pomeranos temos verdadeiros artistas nessa área de trabalhar com a madeira. Muitas peças são trabalhadas na construção de casas típicas e moveis para o dia a dia do pomerano. Desde os tradicionais baús (verdadeiras obras de artes), armários, prateleiras, cristaleiras, bancos, mesas, gamelas, portas, janelas, varandas, pilões, camas, berços, lambrequins (fazem das casas grandes “caixas de presentes de natal”), desnatadeiras, peneiras, balaios, entre outras utilidades para o dia a dia da vida dos agricultores familiares pomeranos. Também citamos os tradicionais moinhos de fubá, tocados à agua que faz o verdadeiro fubá pro brote. O fubá de moinhos industrializados, tocados a energia não serve pro brote.
Os pomeranos também tem seus museus. Os principais museus pomeranos estão em Santa Maria e Vila Pavão. Santa Maria tem o Museu Pomerano localizado praticamente na sede da cidade. Pequena casa no estilo pomerano com centenas de peças antigas da época da colonização. Tem também informações históricas e culturais para eventuais pesquisas. Em Vila Pavão está o maior museu pomerano do Brasil. O museu recebe o nome do Franz Ramlow por ter sido sua casa, onde criou sua família e sendo um dos primeiros colonizadores de Vila Pavão. Além de articular a imigração para Vila Pavão, o local também servia de loca de reza (cultos luteranos) nos primeiros três anos. Depois cedeu um espaço na frente para construir a Primeira Igreja Luterana do município. Foi nessa casa que também recebeu e hospedou por vários dias o pomerano e pesquisador Klaus Granzow no início da década de 1970. Temos conhecimento de Museu em São Lourenço do Sul (RS), Pomerode(SC) e Afonso Claudio (ES).
Os pomeranos também tem sua religiosidade oficial e popular. Oficialmente a maioria dos pomeranos são luteranos da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil/IECLB. No início da colonização, a maioria mesmo ficando aproximadamente 10 anos sem um pastor(1859-1970) não perdeu sua identidade luterana. A benzedeira e o médico de raízes sempre fizeram parte da vida pomerana popular de forma discreta porque era condenado pela igreja oficial por muito tempo. Hoje existe um projeto de Saúde Alternativa com horta medicinal que é modelo e serve de pesquisa para a saúde natural da região norte do Espírito Santo.
A literatura pomerana sempre esteve presente na vida dos pomeranos. Mesmo com toda história conturbada na Europa onde o território pomerano era um palco de guerra entre as grandes nações, entre o oriente e o ocidente, os pomeranos sobreviveram a tudo isso. Klaus Granzow, escritor e jornalista registrou muito sobre a história recente pomerana. Inclusive visitou o Brasil na década de 1970 e registrou isso em livros. No Brasil, no final da década de 1980 até hoje surgiram diversos obras literárias. Inclusive um jornal pomerano (Pommerblad) que circulava bimestralmente de 1988 até 2008 e tinha objetivo de integrar, divulgar, dar visibilidade a cultura pomerana das comunidades brasileiras. Depois surgiram diversas teses universitárias e livros sobre os pomeranos. Os principais autores de livros e pesquisadores pioneiros são Ismael Tressmann, Erineu Foerste, Ivan Seibel, José Carlos Hinemann, Rodolfo Gaede, Jorge Kuster Jacob, Helmar Rolke, entre outros.
Com o avanço da tecnologia e governos mais populares surgiram projetos e os pomeranos chegam as telas do cinema. Martin Boldt de forma satírica fez diversos filmes com muita qualidade técnica sobre os pomeranos capixabas. O pesquisador e sociólogo Jorge Kuster Jacob também teve dois editais premiados que viraram documentários na telas da TV, cinema e redes sociais. Um vídeo (“Bate-Paus”) de 11 minutos foi traduzido por várias línguas e foi exibido durante a copa do mundo de futebol de 2006 na Alemanha. Retratava a perseguição aos pomeranos no Espírito Santo por causa do nazismo durante e após a II Guerra Mundial. E vários outros filmes em vídeo documentários surgiram de 1990 até agora.
Programas de rádio sobre os pomeranos surgiram e podem ser buscado nas redes sociais. Destacamos o pioneiro “Raízes Pomeranas” feito por Adilson Rossemam na Rádio Sociedade de Espigão do Oeste/RO. Em Vila Pavão tivemos um programa de rádio todos os domingos com duas horas de duração de 2005 até 2021. Esse programa chegou a gravar um CD de Concertina e dois CDs de piadas em pomerano.
Os símbolos como a bandeira, o hino e o brasão fazem parte da história pomerana. Temos o brasão, o hino e a bandeira da antiga Pomerânia Báltica. E mais recentemente no Brasil, esses três símbolos dos municípios mais pomeranos do Brasil tem a sua identidade. Exemplo disso são a bandeira, o brasão e a bandeira de Vila pavão.
Temos também na Antiga Pomerânia um vultuoso portal copiado por Pomerode. O portal de Espigão do Oeste também identifica a sua pomeranidade.
Atualmente os pomeranos tem grande presença nas redes sociais. Basta pesquisar e comprovar que para a Pomerânia virar um grande país foi por detalhes e talvez a falta de uma grande liderança e um grande exército.
Independentemente de tudo estamos no Brasil. A Pomerânia é Brasileira. Não existe mais em outro pais. Enquanto aqui temos milhares de crianças com 7 anos que ainda falam a língua pomerana na Europa temos meia dúzia de idosos com mais de 70 anos que com dificuldades ainda praticam esse idioma.
Com mais de 300 mil pomeranos no Brasil não seríamos um dos 30 maiores países do mundo mas com certeza também não seríamos um dos 30 menores do mundo.
Autor: Jorge Kuster Jakob em colaboração para o Portal Brasil Alemanha