Brasil & Alemanha & meio ambiente – por Lissi Bender*

Parece-me, que, desse modo, foi perdida uma oportunidade, para ambos aprenderem, um com o outro. Bolsonaro poderia ter convidado Merkel a visitar o Brasil, para lhe mostrar o que o país tem a ‘ensinar’ à Alemanha e Merkel poderia ter feito o mesmo. Poderiam mostrar na prática os esforços de ambos, para preservar florestas, para proteger a terra e as águas de envenenamento, para a redução da emissão de gazes poluentes e, assim, cada qual voltaria ao seu país inspirado e, quem sabe, com propostas de cooperação mútua.

A propósito da questão ambiental, li outro dia que a capital do país da indústria automobilística está colocando em andamento um audacioso projeto para expandir e melhorar sua rede de transporte público. Veículos movidos à eletricidade que teriam também como meta desacelerar as emissões de CO2, causadores da poluição do ar e do aquecimento global. O governo planeja investir 28 bilhões de euros até 2030, ampliando a rede e melhorando a qualidade do transporte público oferecida à população e, assim, estimular as pessoas a deixarem seu carro em casa, em seus deslocamentos diários para o trabalho, e a fazerem uso crescente dos meios coletivos. Os investimentos preveem, durante os próximos 11 anos, desde a construção de novas linhas de bonde elétrico, a ampliação das linhas de metrô existentes, compra de novos veículos, até a total substituição da frota de ônibus por novos, movidos à eletricidade.

Com isso, Berlim pretende tornar o uso do carro menos essencial, para que dele faça uso somente quem realmente precisa. Nesse sentido, o governo também está prospectando a possibilidade de adotar um modelo novo de passagem, a “passagem cidadã”, por meio da qual todos os moradores de Berlim deverão pagar uma taxa de transporte público. A finalidade seria contribuir para baratear o valor da passagem para todos. O que certamente contribuirá para um uso mais frequente dos meios públicos, já que, de algum modo, cada cidadão estará pagando para o uso dos meios de transporte coletivo.

Com estas e outras medidas, Berlim pretende construir a capital do futuro. Uma cidade livre de emissão de carbono, neutralizando as emissões de CO2, para garantir a qualidade do ar que todos respiram. Outra novidade é a inauguração da primeira Autobahn (a autoestrada A5) adaptada para carregar baterias de caminhões elétricos em pleno movimento. O sistema é parecido com o dos bondes, em que as baterias dos caminhões podem ser abastecidas sem precisarem parar para isso. A finalidade é menos poluição sonora e menos poluição do ar provocado pelo transporte de cargas. Aliás, Alemanha é a terceira potência mundial em energia limpa.
E isso, no país mundialmente conhecido por inventar o automóvel, o motor à gasolina e a diesel. Também no país que inventou o sistema de freio ABS e o Airbag e que construiu seu poderio econômico com o auxílio de fábricas conhecidas, como Volkswagen, Mercedes Benz, Porsche, Audi, Opel e BMW.

Mas as condições ambientais exigem alternativas e, mais do que nunca, os países precisam se aproximar, trocar experiências, em lugar de trocarem críticas. Deveras, parece-me que Alemanha e Brasil desperdiçam valiosa oportunidade para se conhecerem melhor, conhecer seus planos energéticos alternativos, conhecer suas iniciativas para garantir a preservação das florestas, da qualidade do ar que todos respiramos e da Terra de que todos dependemos. Questões ambientais deixaram de ser preocupação isolada. Os países precisam se unir mais, somar esforços, colocar a causa da sobrevivência do planeta e da vida que o habita acima de tudo.

Veja também o texto da Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha, referente à modernização do sistema de mobilidade urbana de Berlim, capital alemã, com dados apresentados pela autora deste artigo, Profa. Dra. Lissi Bender: https://www.dw.com/pt-br/berlim-investir%C3%A1-28-bilh%C3%B5es-de-euros-em-transporte-p%C3%BAblico/a-47747593 .

c *Lissi Bender é professora aposentada de Leitura e Produção de Textos, Língua, Literatura e Cultura Alemã, doutora em Antropologia Cultural pela Universidade de Tübingen, Alemanha, comentarista do programa radiofônico AHAI – A Hora Alemã Intercomunitária/Die Deutsche Stunde der Gemeinden e colunista de www.brasilalemanha.com.br.
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