As cucas de Santa Cruz do Sul, colonizada por imigrantes alemães há mais de 150 anos, não são apenas reconhecidas pelos diversos sabores que as compõem, mas também possuem uma história que é vivida até hoje por seus moradores. A delícia gastronômica tornou a cidade conhecida em todo o Rio Grande do Sul, serviu de inspiração para a Festa das Cucas, realizada há 14 anos. Este ano, o evento ocorre dias 27, 28 e 29 de junho, com uma variada programação artística e cultural, no Parque da Oktoberfest.
A professora de Línguas e Cultura e subcoordenadora do Curso de Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Lissi Bender, explica que a denominação cuca para a iguaria vem do termo alemão “Kuchen” e a rainha de todas é a cuca de açúcar, conhecida como Streuselkuchen. “A partir dela existe uma imensa variedade de cucas com cobertura de frutas e, normalmente, com uma borda de farofa de açúcar, o Streusel. A massa dessa delícia é feita com fermento biológico e é bem fina, mas com cobertura generosa”, explica Lissi.
De acordo com a professora, para poder contar a história da origem da cuca faltam registros precisos, mas antigos livros de receitas remetem para a sua origem na Silésia, o que é referendado pelos especialistas. “Sabe-se que já no século 18 estava presente na cozinha silesiana, de onde procede até mesmo uma lenda que narra a sua origem”, lembra ela. Conforme a lenda, em agosto de 1858, o conhecido poeta silesiano Joseph von Eichendorf escreve em uma carta: “Hoje foi dia de quermesse da orquestra do palácio, por isso foi servida uma enorme cuca de açúcar no café da manhã”. “Isso denota claramente que a cuca estava difundida”, explica Lissi. Outros motivos para os silesianos oferecerem cuca eram as festas em ação de graças pela colheita, os casamentos e os batizados, motivos que até os dias atuais também ensejam a produção da cuca nas comunidades de origem alemã, como é o caso de Santa Cruz do Sul.
Lissi explica que as cucas, além de estarem inseridas no contexto histórico e cultural das comunidades de origem alemã, sempre fizeram parte – e continuam fazendo – das reuniões familiares. “As cucas sempre estiveram e continuam presentes nas famílias, principalmente em finais de semana. Já a comercialização da cuca é uma história mais recente”, comenta. Um bom exemplo disso, da cultura prosseguir de geração em geração, está na aposentada e ex-professora de séries iniciais Hilaide Herberts, que até hoje mantém como costume fazer cuca para a família e amigos.
TRADIÇÃO – Hilaide Herberts é filha de uma Italiana e de um alemão. Nascida no interior de Lajeado, em Vila Sério, a mãe da ex-professora foi quem a ensinou a cultivar o hábito de fazer cuca. “Eu faço cuca como a minha mãe fazia, sem receita, a olho mesmo e sempre dá certo”, declara. Em dia de festa, a família Herberts é agraciada com mais quantidade da iguaria. Todos os finais de semana, a delícia exala seu perfume pela casa e faz a felicidade da família e amigos. As cucas produzidas por Hilaide são enviadas para familiares que moram longe, para amigos que se encontram doentes como estima de melhoras e até mesmo como presente para aniversariantes. Além disso, ela auxilia o filho mais velho em seu restaurante, produzindo algumas cucas para serem apreciadas junto com a comida.
Para fazer a delícia alemã, Hilaide precisa de no mínimo duas horas do seu tempo, entre juntar os ingredientes, amassar, descansar, colocar cobertura e levar a forno. Entre as favoritas da família está a cuca de ricota, popularmente conhecida como requeijão. Para a cobertura, a maioria dos ingredientes é feito pela aposentada, como o creme de leite e a própria ricota. “O que faz a cuca ficar boa é a escolha do ingrediente para o recheio e, é claro, a massa deve ser muito bem sovada”, ressalta.
Do seu passado com a cuca, Hilaide não recorda quando fez a primeira receita, mas lembra de que eram feitas apenas de açúcar e, que, com o tempo, foram se diversificando os sabores. “Lembro que a cada festa em família, meu pai comprava sacos e sacos de farinha para a produção de cucas. Naquela época não eram feitos tortas, bolos e doces como hoje”, recorda. Atualmente, a ex-professora cultiva mais algumas tradições ensinadas por seus antepassados, como fazer galinhada, nata, queijo, requeijão e, claro, falar alemão. Ela também se dedica à costura. “Mas prefiro fazer cuca a comer ela. Gosto muito de cozinhar, é meu hobby, um prazer”, confessa.
TÉCNICAS – Hilaide tem duas técnicas para tornar o recheio ainda mais gostoso, em todas as cucas ela coloca a famosa “farofa” de açúcar, conhecida como “Streusel” e a cada iguaria retirada do forno, ela entorna grandes fios de leite condensado por cima de tudo, ainda quentinho. Antigamente, conforme Lissi, fios de mel eram usados no lugar do leite condensado. Além das raspas de limão e da canela, que tornam a delícia gastronômica ainda mais saborosa e cheirosa. E para a massa, que antes era sovada a mão, hoje ela é batida na máquina de fazer pão e fica, segundo a aposentada, na temperatura ideal para o seu crescimento. “A gente vai se reinventando, aperfeiçoando”, comenta.
Fotos em anexo: Preparo de cucas é tradição em Santa Cruz
Crédito fotos: Patricia Barreto/Divulgação
Fonte: Assessoria de Imprensa da 14ª Festa das Cucas
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17 de junho de 2014