Dia da Etnia Alemã – Lissi Bender*

No Centro, o movimento mais visível é o jantar-baile de aniversário do Centro Cultural 25 de Julho, que este ano celebra 33 anos de sua existência. Aliás, nossa instituição cultural alemã foi tardiamente criada em 1986, quando Porto Alegre já conta com um Centro Cultural 25 de Julho desde 1951.

 

 

 

 

Apesar de ser o único feriado instituído localmente, para celebrar a origem de Santa Cruz, que fora criada pelo governo riograndense, com intuito de assentar famílias germânicas. Esta decisão confere a Santa Cruz a posição histórica de ser iniciadora da segunda fase de imigração no Estado. No entanto, o feriado pouco ecoa na cidade.  Até mesmo houve uma tentativa de anexá-lo ao final de semana mais próximo, sem que viesse acompanhado de uma proposta voltada para celebrar de forma mais abrangente e intensa – também na cidade – a participação e o legado de origem germânica. Desse modo passou a impressão de que o único propósito foi o de propiciar feriadão, um tempo espichado para atividades outras.

Além disso, o feriado de 25 de julho, enquanto dia do Colono, está sendo paulatinamente desvestido de seu sentido original – dia daquele que colonizou nossa região. O termo colono vem sendo traduzido como sinônimo de agricultor, apesar de o dia do agricultor ser 28 de julho. Dessa forma, pouco se leva em conta que, grande parte dos imigrantes vindos para Santa Cruz não era constituída somente por agricultores, mas era competente em diferentes artes, ofícios e profissões. Até 1886, em torno de 62% das pessoas vindas a Santa Cruz havia trazido consigo algum ofício, inexistente aqui antes.  Entre os Handwerker havia 54 tecelões, 34 sapateiros, 25 pedreiros, 22 marceneiros, 20 ferreiros, 18 carpinteiros, 18 alfaiates, 15 destiladores, 14 moleiros, 11 produtores de charutos, 9 cervejeiros, 9 construtores de carroças e diversos outros, inclusive profissionais liberais.

 Dez anos após a vinda das primeiras famílias, já havia sido superada a produção de subsistência. Acerca do período entre 1859 e 1889 –  considerado de estruturação –  pode-se conferir nos registros de João Bittencourt de Menezes que, em cada segunda moradia, havia uma roca de fiar para a produção de tecidos de linho e de algodão; que em 1885 Santa Cruzjá havia conseguido devolver com juros ao governo do Estado,  todo o dinheiro por ele  investido na Kolonie.

Esses imigrantes continuaram a exercer aqui suas aptidões trazidas de além-mar.  Muitos as praticaram paralelamente à atividade de produção agrícola e, desse modo, contribuíram, para a formação da base comercial e industrial de Santa Cruz. Andrius Estevam Noronha, em sua tese de doutorado, mostra como se formou o empresariado de etnia alemã no Município, e sua contribuição para o do estabelecimento e desenvolvimento da base econômica local. No entanto, celebramos basicamente o colono-agricultor, como se na cidade não tivesse havido imigrantes oriundos de outros segmentos econômico-sociais, que também participaram da construção de nosso lugar de viver, como se não houvesse motivos para celebrar o feriado em meio urbano.

Assim sendo, parece haver uma “invisibilização” do feriado de 25 de Julho na cidade. Apesar de ser o único localmente criado. Acresce-se a isto que desde 2003 existe um projeto aprovado do Deputado Heitor Schuch que instituiu o dia 25 de Julho como dia da ETNIA ALEMÃ no Rio Grande do Sul, para homenagear o legado alemão “na educação, na cultura, na agricultura, na economia, no associativismo e cooperativismo, na política, no esporte e tantas outras áreas de igual importância”, como na imprensa.

*  Lissi Bender, Doutora em Ciências Sociais – Antropologia Cultural -, Vice-Presidente da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, tradutora, delegada da FECAB – Federação dos Centros de Cultura Alemã no Brasil e comentarista do programa radiofônico AHAI – A Hora Alemã Intercomunitária.