Quando li um artigo sobre “O sabor da Caatinga” no Estadão hoje, lembrei-me de uma viagem para a qual meu amigo e companheiro de viagem, o professor Willi Bolle, me convidou em março de 2018. O destino foi a cidade baiana de Uauá, pois foi lá que começou uma caminhada de três dias pela Caatinga, com o objetivo de chegar à cidade perdida de Canudos, que ganhou fama mundial através do livro Os Sertões, de Euclides de Cunha.
A caminhada, chamada Caminhada dos Umbuzeiros, começou com uma visita à Cooperativa Coopercuc, fundada pelos agricultores familiares da região de Uauá, Curaçá e Canudos. Sua tarefa é processar os frutos que crescem na região dos Umbuzeiros. Processar estas árvores, que dão frutos várias vezes por ano, a maioria após a estação chuvosa, que dura até ao final de março, e comercializem-os primeiro regionalmente, mas agora também a nível nacional, para que esta população rural saia gradualmente da zona de pobreza.
Durante a visita pudemos degustar os produtos como sorvete, iogurte, geleia, suco de frutas, licor e até cachaça da Umbu. De acordo com o relatório de hoje do Estadão, os negócios dessas e de outras cooperativas se desenvolveram muito bem e as primeiras exportações para a China, Europa e América do Sul são regularmente enviadas.
Após essa degustação descontraída, nossa caminhada começou com uma mochila lotada, as barracas foram trazidas de caminhão, atravessando a Caatinga em uma marcha noturna de 10 km, e marchas de 2 dias de cerca de 20 quilômetros, sob o sol escaldante. Não podíamos beber a água tão rápido quanto nossas gargantas secassem.
À noite, as tendas tiveram que ser montadas pelos participantes e os dias terminaram com fogueiras, apresentações de música e teatro pelos participantes. Fomos acompanhados por um historiador que sempre nos contou a história dessa batalha dramático-histórica nos vários pontos das batalhas entre os apoiadores de Antonio Conselheiro e as tropas do governo. Durante o dia vivenciamos a paisagem extrema da Caatinga, com terra ressecada, leitos secos de rios, mas entre os Umbuzeiros, que eram verdes e davam frutos apesar do calor e da seca. Também conhecemos os arbustos, alguns dos quais foram usados como um verdadeiro muro de proteção para evitar que as tropas do governo atacassem, cujo nome: Favela, foi mais tarde dado aos assentamentos dos combatentes do governo no Rio de Janeiro quando eles retornaram e o governo esqueceu o apoio prometido para a construção de moradias. Os braços da favela tem tais espinhos nos galhos que rasgou os uniformes dos soldados e aqueles que não foram cuidadosos poderiam sangrar até a morte. Nós mesmos sentimos isso algumas vezes quando você chegou muito perto deles.
A batalha por Canudos durou quase um ano e terminou com a destruição por incêndio criminoso do lugar, pelo qual no decorrer do tempo a maioria dos cerca de 25.000 habitantes pereceu. Este lugar é agora inundado por uma barragem, mas ainda há o novo Canudos, que, embora não goste muito de ser lembrado da história, continua a carregar essa parte cruel da história brasileira, os primeiros anos da República, apenas pelo nome.
Alguns moradores afirmam que em certas noites do ano, os gritos dos assassinados podem ser ouvidos.
P.S.: Fiquei tão impressionado na época que escrevi um poema sobre essa estadia, está em anexo.